domingo, 28 de dezembro de 2008

Segue...

Espera aí! Vou chama-lo!
Onde estavas que não me ouvias?
Segue, vamos embora.

Neste dia vamos até ao rio
ver o que há de novo por lá
Há sempre novidades, pois o rio corre
vemos passar e não se consegue fazer parar.

Deixa os sapatos de lado, segue para o rio
tenta chegar ao outro lado
mas com cuidado.

Há muitos obstáculos mas segue.
Se preciso for constroi uma jangada
e no regresso recolhes tudo o que foste
deixando para trás, mas que não foi com a corrente.

Deixa estar! Vamos regressar
o sol já se vai embora e não demora.
Não olha para trás, como nós.
Segue como o rio, o seu curso de fim de dia.

Guarda a fotografia
deste dia
onde te via
descalço por um dia.

© [2008] RR

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Sessenta...

Vamos tenta!
Nesta fome lenta
sessenta
são os capítulos
que cada dia assenta

Vamos tenta!
Pega na cesta
colhe o fruto
sessenta
são os que nascem
depois da flor

Vamos tenta!
Romper o dia
que ao longe tenta
sessenta
é a hora
que queima lenta

Vamos tentemos!
Parar o transito
todos os caminhos
para onde se corre
pois não temos pressa
o dia é longo
por isso tenta!
sessenta

© [2008] RR

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Trinta...

São trinta os dias que contei
Mais trinta pretendo contar
Sejam horas, dias, meses ou anos
nada é demais enquanto se pensa
Ainda agora lá chegamos

O lado escuro não há
Branco é o dia como as nuvens
lá no alto, bem em cima, no céu azul

Querer algo só não basta
contar mais dias, meses ou anos
nunca é demais, se pensar, continuar
e não mais acabar, nos trinta e muitos
sejam eles horas, dias, meses ou anos

São trinta as fotos que tirei na minha mente
Dessas trinta escolhi uma
a que me mostra aquela expressão
de miúdo traquina que não fez nada
mas que por onde passa deixa saudade

Nestes trinta dias, que podem ser meses ou anos
Nunca se deve esquecer a distância dos afectos
que são como as nuvens brancas
lá no alto, bem em cima, no céu azul
Que mesmo separadas no bom tempo
se juntam nas tempestades
provocam aguaceiros
separam-se de novo e continuam
lá no alto, bem em cima, no céu azul
onde mesmo assim se vêem
e juntas estão por mais de trinta séculos
tantos quantos a brisa deixar.

© [2008] RR

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Assente, presente...

livre
sente
olhar distante
cai o dia
sente-se fria
vazia

gelado no corpo
outro
encontro
quente
fervente
cabeça assente

queria
vivia
espera e contesta
detesta
margens vazias
dizias

água
caída
no céu movida
vivida
sentida
querida

o rosto
exposto
como carne
no abismo
atirado
rondado
por abutres
desventrado

as formas
que tomas
não tornas a ver
mas vais querer
ter
viver
aparecer
na forma errada
desventrada
onde nada
é a resposta
dada, falada
revelada

cabeça assente
corpo ausente
crente
que sente
algo ousado
falado
suado
alado, ausente

corpo assente
cabeça ausente

© [2008] RR

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Memória distante...

São quatro da manhã
estou só e tu sem chegar
Saíste sem dizer nada
pela alvorada e sem deixar recado

Esqueço o tempo
não sei que horas são
Estás quase a chegar, pela madrugada
vens com a brisa que sopra de mansinho
que te abre o caminho
por entre as folhas
que lá fora, teimam em não me deixar passar

Calmo e denso, como o nevoeiro
chegas e sinto o teu cheiro
igual ao que guardo na memória
dos dias em que não estavas

© [2008] RR

terça-feira, 5 de agosto de 2008

River deep, mountain high...

Grande rio corre em paz, apesar do seu vigor
Marca o curso com rigor
Por isso os rios têm vida longa
Vai certo ao compasso do tambor...

sábado, 26 de julho de 2008

Noite e dia...

Quero partir, desaparecer
deixar tudo para trás.
Nada me prende aqui
nada me prende a ti
nada me prende a mim

Não quero viver assim
não quero viver aqui

Leva-me para longe
onde o dia se cruza com a noite
a lua fica lá alto
brilha, hipnotiza e guia
com a sua aura no escuro

Quero o sol de volta
Aquele que ilumina os dias
leva a noite e a lua de volta
para o outro lado do mundo
onde deve ficar

É essa luz que prende
faz-me pensar em voltar
mas não para o mesmo lugar
pois aí nada me prende

Antes este lugar
onde te posso contemplar
mesmo sabendo que preso a ti
é como quero ficar.

© [2008] RR

terça-feira, 8 de julho de 2008

O tempo traz, o tempo faz...

Hoje lembrei-me de ti.
Hoje fizeram lembrar-me de ti.
Numa conversa oca, louca, sem sentido
que não espelha o sentimento de perda e falta
que me fazes.

Recordei-me de ti
de todas as visões que tenho,
das imagens que não quero esquecer.

Ainda estás nos meus sonhos de menino, rapaz, homem
que não têm onde acabar, e não quero que acabem.

Amanhã não me vou esquecer de ti.

Não tenho o que esquecer.
A vida deveria ser um processo reversível
pois a morte só traz a lembrança
e a saudade faz com que não vá esquecer a falta que me fazes.

Hoje lembrei-me de ti.
Ainda vivo por ti.
Fazes falta, a mim!

© [2008] RR


Em memória (para) Luísa Rodrigues

domingo, 6 de julho de 2008

Como?...

Como descrever um sentimento?
Como procurar o que não se encontra?
Como conhecer o que não se sabe?
Como descrever o que não faz sentido?

© [2008] RR

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Quem é?

Quem tem, que não perca
Quem achou, que não deixe
Quem viveu, que não esqueça
Quem viu, que não comente

Os que têm, perderam
Os que acharam, deixaram
Os que viveram, esqueceram
Os que viram, comentaram

Quem tenta, que não desista
Quem não reage, que aprenda
Quem constrói, que não destrua
Quem verifica, que olhe

Tentamos, sem desistir
Reagimos, sem aprender
Construimos, para destruir
Verificamos, para não olhar

Quem faz, que queira
Quem escreve, que não apague
Quem pensa, que concretize
Quem sabe, que pratique

Não queiram tudo o que fazem
Não apaguem o que não conseguem escrever
Não concretizem enquanto pensam
Não pratiquem tudo o que sabem


Quem não vive não se queixe da vida

© [2008] RR

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Ter...

Precioso, preciosismo tem este gostinho
a todas estas coisinhas boas
As coisas preciosas, preciosíssimas têm um gostinho
a todas estas coisinhas boas

Devagar, devagarinho caminha certinho
para só colher coisinhas boas
As coisas lentas, lentinhas Não se consomem
para só colher coisinhas boas

© [2008] RR

domingo, 11 de maio de 2008

Sede...

Não vás por esse caminho
Não queiras sair do trilho
Segue a tua sede até à fonte
Sacia a sede e volta pelo caminho

Cada vez que o atravessas, olha
Não faças desvios
Não queiras sair do trilho
Segue o caminho marcado no chão

Desvia-te, só um bocadinho
Segue a tua sede até à fonte
Perdido regressas ao trilho
Não sacias a sede
Não encontras o caminho

Não te percas, leva um amigo
Não queiras sair do trilho
Da-lhe a mão
Segue o caminho marcado no chão

© [2008] RR

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Está tudo virado do avesso

Dei por mim no meio da multidão a sentir-me um perfeito estranho. Um perfeito desconhecido. Perfeitamente sozinho. Um outsider. Não me reconheci. Não reconheci ninguém.

Dei por mim a pensar. Queria acabar. Afastei-me. Reconheço alguém. Volto a sorrir mas não a deixar de sentir. Deito-me. Penso e Adormeço. Está tudo virado do avesso.

© [2008] RR

terça-feira, 29 de abril de 2008

Visão...

Não me apetece ver!
Mesmo de olhos abertos
Mas vou tentar ser
Mais concentrado no certo

Vou fechar os olhos!
Mesmo depois de os ter aberto
Mas tenho de ver onde ando
Mais concentrado no certo

© [2008] RR

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Vai-vem...

Em cada um de nós ergue-se uma voz.
Cada vez que nos encontramos, não sabemos muito bem viver.
Há em cada um de nós uma independência forçada.
Viver, é também erguer a voz.
É também viver só.
É também ser só feliz.

© [2008] RR

quinta-feira, 27 de março de 2008

A Coisa...

Não sei o que tanto me faz pensar
A vida passou por este lugar e nada disse
Não sei como me faz andar
A vida passou por este lugar, viste?

© [2008] RR